Nós e a metamorfose dos Governantes

“Os governos se adaptam necessariamente à natureza dos governados; são resultado mesmo dessa natureza.” A frase parece recém-pronunciada por algum cientista político sobre o comportamento errático dos governos de hoje em dia. Mas a frase é velha. A constatação é do pensador heterodoxo, autodidata e pré-iluminista do século XVI, o napolitano Giovanni Baptista Vico, que, segundo historiador Edmund Wilson, estaria na base das ideias que mais tarde deram substância às revoluções modernas: burguesas e socialistas.

A citação é do livro Rumo à estação Finlândia, da década de 40, do século passado, antes que Wilson se decepcionasse com a revolução russa. Em 1971 o autor admitiu que “Nada me levava a desconfiar que a União Soviética viria a tornar-se uma das mais abomináveis tiranias que o mundo jamais conhecera, e que Stalin seria o mais cruel e inescrupuloso dos implacáveis czares russos”. Apesar desse equívoco, as ideias de Wilson não perderam o vigor nem a lucidez e o livro continua recomendável. Agora, se um pensador da argúcia de Edmund Wilson foi capaz de cometer um engano dessa monta, imagine nós pobres eleitores na hora de escolher nossos representantes. Nem Jesus com gancho nos ajuda a identificar um candidato que preste! Então, prezado leitor, se seu representante o decepcionou, não se deprima nem assuma a posição birreta de não votar mais. Uma hora a gente acerta.

Retornando à frase de Vico, sobre a adaptação dos governantes, como ela continua atual! Quem não se lembra da famosa recomendação de 1993, que Fernando Henrique Cardoso, postulante à sucessão do Presidente Itamar Franco, num jantar, teria feito aos empresários (sempre conservadores): “Esqueçam o que escrevi!” A recomendação parece que deu certo! Porém, agora que ganhou uma comenda nos Estados Unidos, exatamente pelo que havia escrito, corre atrás do prejuízo, dizendo que a frase é uma farsa, um mito, uma lenda, sei lá!

No primeiro Governo Lula, ele deflagrou uma batalha encarniçada em favor do etanol brasileiro. Seus argumentos foram amparados pelos benefícios da sustentabilidade e da preservação ambiental, em contraposição aos combustíveis fósseis que são finitos, poluentes e insalubres à vida de um modo geral. Bacana! Mas bastou a Petrobras lhe falar sobre uns mapas geológicos que davam conta da existência de um oceano de petróleo no intestino grosso do País para que o Presidente desse um cavalo de pau em sua prosópia e passasse a defender com o mesmo ardor a exploração do pré-sal. E o meio ambiente? Nunca ouvi falar!

A Presidente Dilma, desde sua posse, desfraldou uma fé inquebrantável no crescimento do PIB, o produto interno bruto, termômetro de nossa riqueza, que vem, ano a ano, perdendo o gás. Mas o seu ministro Matega, um tanto bisonho, tentou todas as suas armas e até agora o que conseguiu foi apenas mudar o nome do PIB para Pibinho e pode chegar ao Zeradão até o final do ano. A presidente, que é maneira no seu governar, já tomou as providências. Ou seja, já trocou o discurso. Disse que “Uma grande nação tem que ser medida por aquilo que faz a suas crianças e adolescentes. Não é o PIB, é a capacidade do país, do governo e da sociedade de proteger o que é o seu presente e o seu futuro, que são suas crianças e adolescentes.” Será que somos mesmo essa metamorfose ambulante e nossos governantes se inspiram em nós? Sei não, hein?!

(Crônica publicada no jornal O Popular - Goiânia - Goiás em 14 de julho de 2012)

Imagem do google: A metamorfose de Narciso - Salvador Dalí

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