Se há
uma coisa em televisão, que me diverte, são esses documentários em canais como
o Discovery, National Geographic e
Animal Planet, sobre o comportamento social dos bichos. E sobre essa questão já
tirei pelo menos um entendimento: o nosso processo civilizatório caminha numa
trajetória sem volta para ser algo instintivo e bárbaro como a sociedade dos
bichos, com seus bandos ou manadas. E,
como tal, ou urutau, agir mais por instinto ou inteligência emocional, do que
mesmo por algo orientado pela razão. Até mesmo quando alguém estuda bastante,
enveredando pelos caminhos das ciências humanas e parece reprimir seus
instintos animais, acaba por fazer uma pós, um MBA, qualquer coisa assim, para
recobrar os instintos de bicho. E, é claro, atender às demandas do mercado.
Num
documentário sobre um grupo de macacos africanos, percebi que o sistema
político deles tem muitos pontos de contato com o nosso. O presidente ou líder da
manada, precisa estar atento o tempo todo para evitar que companheiros e
adversários se apossem dos bens sob seus cuidados. E que bens são esses? O
território, as aguadas, as fontes de alimentação, as vias de transportes como
os galhos e cipós, os locais de dormir com segurança e, sobretudo o harém. O
harém, este sim, é o ponto nevrálgico, o patrimônio mais vigiado e mais
subtraído. Talvez corresponda ao Erário nas sociedades humanas: o que mais se
vigia e é o mais dilapidado. Não tem santo Cristo que impeça que oportunistas e
salafrários o desfalquem.
Ser
chefe nesse bando de macacos, mais do que um privilégio, é um tormento. É o
tempo inteiro empreendendo ações populistas: sacode árvores para derrubas as
frutas pra macacada, joga água nos outros em momentos de calor, afugenta
predadores e tal. E ainda tem que dormir com um olho só. Eles não têm polícia
federal, tribunais de conta ou qualquer meio estruturado de fiscalização. Tudo é
guardado pelo olho do chefe. E seu direito mais precioso, o de projetar seus
genes no futuro, engravidando as macacas do harém, é o mais violado. Enquanto
ele capricha uma fornicada com uma, vem qualquer macaquinho à-toa e dá uma
rapidinha com outra, e sai correndo pela mata com gritaria característica, contando
a todo mundo: peguei mais uma. É verdade que há uns exibidos e covardes que não
se arriscam a transar com nenhuma macaca, mas sai gritando como se o transcurso
tivesse ocorrido. Isso é o bastante para retirar o líder do sério. E quando ele
pega um malandro desses, não tem outra pena: é a de morte. Que ele executa
pelos próprios meios.
Enquanto
isso, os companheiros contrariados e a oposição vão se conchavando para suceder
ao líder. E quando ele menos espera, o pessoal dá o golpe (a eleição deles). O
líder da oposição assume, joga o antigo chefe no ostracismo, e imediatamente
deflagra uma guerra sangrenta contra os companheiros de campanha para que suas
ordens valham e tenha um controle efetivo dos bens sob sua guarda.
Que só
um prefeito ou presidente recém-ungido: sua luta imediata é contra os
companheiros de coligação e campanha. Porque o líder dos humanos, assim como o
dos macacos, se bobear, os companheiros açambarcam tudo. A começar pelo harém.
(Publicado no jornal O Popular, Goiânia, Goiás em 16 de novembro de 2012).
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