Em recente viagem à China, vi uma cena do cotidiano em
Pequim, impossível de se ver abaixo ou acima, em terras tupiniquins. (As rimas
são porque pensei escrever em versos, mas fiquei com preguiça. E por preguiça
também não desfiz das rimas depois que optei pela escrita em prosa. Afinal,
todo Macunaíma que se preze, tem preguiça até da preguiça que tem). Pois então.
Num bairro de classe média, densamente povoado,
comparável ao Setor Bueno, em Goiânia, embora muito diferente, pela limpeza,
calçadas regulares, asfalto impecável, tubulação de água, luz e gás
secretamente camuflados, vi uma cena de estarrecer a um brasileiro. Ali pelas
duas da tarde, muito calor, um motorista de táxi estaciona o veículo debaixo de
uma ginkgo biloba bem frondosa, abre a porta do passageiro para correr um ar.
Começa a organizar o dinheiro sobre o banco do passageiro. Naquele clima quente
e úmido, foi inevitável: veio a soneira pós-almoço.
Do jeito que estava, (o calhamaço de notas, a porta
aberta) o motorista reclinou o assento e
cochilou. As pessoas passavam pela calçada sem ao menos manifestar curiosidade
pelo dinheiro ali dando sopa. Daí a pouco, o rádio chama, o motorista se recompõe,
enfia o bolo de dinheiro na gaveta do console, fecha a porta, e sem ao menos
olhar ao redor com suspeita, lá se vai cumprir sua rotina pelas ruas de uma metrópole
de 20 milhões de habitantes.
Observei tudo pelo vão do alambrado do condomínio que
meu filho morava. Morava, porque agora ele se mudou para uma “cidadezinha
pacata” no sul da China, de quatro milhões de habitantes. Aliás, dos 30 dias
que perambulei pela China, vi duas cenas que talvez demandassem polícia:
1)esbarrão de dois carros numa avenida na zona comercial de Pequim em que os
condutores nervosos trocavam acusações; 2) duas mulheres numa estação de metrô trocavam tapas, mas
logo chegou um homem, que não era policial nem segurança e apartou a briga. No mais é uma traquilidade só. Um mundo zen.
Cena assim seria possível aqui no Brasil? Nem pensar.
Só para se ter uma ideia, nos últimos 15 dias, dos quatro moradores do andar de
meu prédio, três foram assaltados a mão armada, com arma na cabeça e tudo (dentre
os quais me incluo), aqui nos arredores da Praça do Chafariz, na confluência dos
setores Bueno e Bela Vista.
Conversando com um amigo penalista, ele me disse que
nossa legislação é uma espécie de energético para o crime. Um bandido ganha
bem. Alguém que só arrumaria subemprego, no crime leva vida de magnata. Se for
pego, tem grandes chances de continuar na profissão de dentro do presídio, com
mais segurança do que qualquer cidadão cavando a vida com honestidade. Na
prisão terá assistência religiosa, jurídica, psicológica, médica, visitas
amorosas e tudo o mais. A família recebe bolsa-presídio e assistência social.
Já a viúva e os órfãos da vítima que se lasquem por conta e risco.
Na China, meliante sofre penas severas. Se
reincidente, leva tiro na nuca e o Governo envia um boleto para a família
recolher os custos da bala ao erário. Com uma lei assim eu queria ver o Brasil
com tantos criminosos e até importando outros mais dos países vizinhos. Nosso
problema é que os meliantes já ocupam até os mais altos escalões da República e
não teria ninguém com reserva moral para puxar o gatilho contra a nuca dos
malfeitores.
(Publicado no jornal O Popular - Goiânia - Goiás em março de 2013)
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