Sem pretensão de ser sentencioso, tenho comigo que a
ignorância não está isenta de sabedoria, nem o conhecimento imune à estupidez.
Penso também que o Brasil vem sendo composto pela mistura da sabedoria dos
ignorantes com a estupidez dos sabidos. Essa mistura, vai por mim, não é a mais
apropriada para um país decente e proativo. Um país que perceba os legados do
passado, as oportunidades do presente e que ainda se prepare para os embates do
futuro, não pode se guiar apenas pelas linhas combinadas da sabedoria dos
estúpidos e a estupidez dos PHDs.
Nas alturas, certamente já passou um filme pela cabeça
do(a) leitor(a), dando conta de um rosário de episódios em que a dita
combinação foi a base da concepção e andamento. Na verdade, basta uma olhadinha
no funcionamento do país para ver quanta coisa está montada nesses termos. O
orçamento brasileiro, amparado por um sistema fiscal rapelante, não dá conta de
atender condignamente às obrigações do estado. FHC, um dos homens mais cultos
do mundo, segundo a UNESCO, parece que passou seus dias de presidente, feito um
tosco, matando mosquitos no Planalto (O Plano Real é do tempo de ministro). O
Presidente Lula, com sua sapiência intuitiva, alcançou uma popularidade quase a
ponto de ser unânime, mas lhe faltou a lucidez dos sábios para se valer desse
prestígio e tomar as providências devidas.
Basta ver como andam nossas vias de transporte, a
educação, a saúde, a segurança pública, o sistema eleitoral. O sistema
eleitoral, aliás, é um ótimo exemplo: Se por um lado temos a urna eletrônica,
uma amostra de nosso gênio diante do mundo, por outro temos o sistema de
captação de fundos para campanha, uma lambança à base de caixa 2 e compras de
votos de diretórios fajutos, que arrasta o processo para um lamaçal putrefato.
Se por um lado temos a Lei da Ficha Limpa, que afasta ratazanas contumazes, por
outro não estimula pessoas de bem a se sacrificarem pelo coletivo e se submeter
ao processo eleitoral. Assim ratazanas magras simplesmente ocupam o lugar de
ratazanas gordas.
Um exemplo mais distante com reflexo até nossos dias: Reza
a lenda que a Itaipu Binacional, nos anos 70 (Brasil-Paraguai), uma coisa boa que
trouxe sobrevida energética ao País, era para ser construída com empréstimos de
fundos internacionais.
O empréstimo, ao longo da construção, foi entrando pelo ralo dos
superfaturamentos, das obras em duplicidade, das majorações de parcelas, dos repactuamentos
de preços e outras macumbas do dinheiro público. Reza ainda a lenda que a
estupidez dos sabidos logo achou a solução: o dinheiro do INPS (instituto
Nacional de Previdência Social) recém-criado, com muitos contribuintes e poucos
beneficiários e um fundo considerável, que era para bancar o sistema quando a
situação se invertesse (muitos beneficiários e poucos contribuintes).
A hidrelétrica foi feita; uma das maiores do mundo.
Sem contar a chantagem dos paraguaios por preços de suas cotas acima dos preços
de mercado, a energia de lá nos tem socorrido a tempo e a hora. Já a
previdência social, faltosa de seus fundos iniciais, tem sido o tormento de
gerações. E a solução parece longe de ser encontrada. Quando será que poderemos
fazer um país decente, com a melhor das percepções dos ignorantes e dos sabidos?
(Publicado no jornal O Popular, Goiânia, Goiás em 30 de setembro de 2012)
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