O que poderia me dar um Ano Novo? Eu diria que nada.
Absolutamente nada. Um ano é apenas uma convenção estabelecida pela cultura
humana. Certamente houve uma época em nossa pré-história que não havia essas
divisões impostas pelos calendários, pelos relógios, pelos cronômetros de
precisão. O tempo era um fluxo contínuo. Um dia depois do outro, uma noite
depois da outra, a primavera depois do verão e o outono antecedendo o inverno,
que por sua vez já puxava a primavera e a roda seguia adiante, sem a contagem
de anos, semanas, meses, anos, décadas, milênios. Era simplesmente uma vida depois
da outra. É bem provável que uma geração sucedendo a outra foi a primeira noção
(entre natural e arbitrária) de divisão do tempo que tenha povoado a imaginação
de nossos ancestrais.
Mas não fujamos da pergunta inicial: O que poderia me
dar um Ano Novo, como este 2013, que chegou novinho em folha, depois de
resistir à crise americana, à crise europeia, às bobeiras coletivas ao redor do
globo e até de superar o prognóstico sombrio do calendário maia? Insisto: Um
Ano Novo nada pode me dar. A não ser que eu mesmo me dê, no espaço de tempo que
se convencionou chamar de ano civil, terreno ou gregoriano.
É que o tempo (aqui travestido de ano, de Ano Novo) é elemento
essencial para qualquer realização humana. Sem a matéria prima do tempo, nada
pode ser feito. No entanto, o tempo sozinho não é capaz de fazer nada, ou quase
nada, em nosso favor. É claro que fatos fortuitos e fora de nosso controle
podem nos afetar de modo irremediável. Mas não é dessas coisas que falo. Aqui
me refiro ao que o Ano Novo pode me dar em termos de realização, das coisas que
podem acontecer, porque eu sonhei com elas e as busquei no tempo e no espaço e quis que elas acontecessem de alguma forma
com a aparência que lhes dei na minha imaginação.
Neste sentido, um ano pode nos dar um mundo infinito
de possibilidades. Podemos estar com nossas agendas recheadas de ações que
vamos desenvolver nos próximos 12 meses, e o resultado disso poderá de fato ser
auspicioso, nos dar orgulho, senso de realização, sentido de vida.
Uma agenda (real ou virtual) é sem dúvida o ponto de
partida para que os votos que recebemos dos amigos, nessa ocasião convencional,
de muita paz e realizações, podem de fato fazer sentido em nossa vida.
Para quem tem iniciativa, estratégia e vontade de
fazer coisas bem feitas, coisas que fazem diferença em sua vida e na vida de
outras pessoas, 360 dias é tempo pra chuchu. É o suficiente para se melhorar
até virar santo, com aura e tudo, ou se piorar até virar o cão. A opção é sua.
É de cada sujeito vivo-vivo. Que vivo-morto já não pode fazer muita coisa, senão
aprofundar-se em sua própria morte em vida.
E não se esqueça nunca. Se tiver de fato algo
relevante em sua agenda, a vez é agora em 2013. 2012 já acabou e 2014 pode ser
avariado por estragadas profecias. Eis a hora e a vez. Ah, e não se esqueça: se ainda não
começou, já está atrasado, porque alguns dias já foram queimadas e o ano todo
já vai de enfiada.
Não demora muito para que aquele velho barbudo,
vendilhão sem ética, volte a nos assediar com suas renas, seu trenó e seus
sacos de bugigangas.
(Publicado no jornal O Popular em 16 de janeiro de 2013).
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