O carro é nossa saúva pós-moderna


Se o Brasil não acabar com o carro, o carro acaba com o Brasil. Não é preciso ser nenhum cientista social como Max Weber ou Roberto DaMatta para fazer este prognóstico. Nem mesmo um crânio das letras como Monteiro Lobato de quem adaptei a frase, que disse num outro contexto: Se o Brasil não acabar com a saúva, a saúva acaba com o Brasil.  Aliás, citar Monteiro Lobato nos dias atuais anda meio temerário, porque os analfabetos funcionais juntaram-se com os politicamente corretos e se arvoraram de revisionistas da história. Eles só sabem ler auto-ajuda e manual de instalação, no literal, sem conotações, sem entrelinhas, sem metáforas nem contexto. E como revisionistas que agora se vêem, querem reescrever tudo, de cabo a rabo. Da velha cantiga de criança Atirei o pau no gato aos antigos textos da bíblia sagrada.  Nessa leva o velho e genial Lobato foi enquadrado como racista e sei lá mais o que de coisa excomungada. 

Mas nosso assunto é o excesso de carros nas estradas e ruas do País. Não há lugar para mais nada nem ninguém. Só para carros e ainda muito lentos, quase parando. A presença do carro é algo tão forte em nosso bioma que se chegasse de repente um extraterrestre por aqui e tivesse que fazer a seu líder um relatório do que viu, como Pero Vaz de Caminha fez para El Rei D. Manuel, de Portugal, certamente descreveria o carro como o ser mais dominador e feroz, ocupando o ápice na cadeia alimentar deste planeta remoto. Teria a impressão de que tudo o que se faz no Brasil é para atender aos caprichos e às necessidades dos carros. 

E por mais estúpida que seja essa primazia dada ao carro, o Governo Brasileiro vem, cada vez mais, se aprofundando nos incentivos fiscais e ausência de investimentos em transportes coletivos, para que as pessoas comprem mais e mais carros. Nosso ministro da fazenda Guido Mantega  anuncia os incentivos com a inocência de um anjo e a convicção de um gênio, como se estivesse tomando uma providência redentora para o País, sem qualquer efeito colateral. Aliás, eu tenho uma certa preguiça do Mantega. Apesar de ser constante de seu currículo de que é Doutor em Sociologia do Desenvolvimento pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, com especialização pelo Institute of Development Studies da Universidade de Sussex, Inglaterra, ele me dá sempre a impressão ruim de ser diplomado é em algum curso tecnológico de contabilista pelo SENAI do ABC paulista ( o mesmo em que Lula se diplomou em torneiro mecânico). 

No médio e longo prazo, essa política de incentivos ao carro, sem investimentos em infra-estrutura, fatalmente vai degringolar de vez a nossa economia e o meio ambiente, sem contar que nos tornaremos ainda  mais atrasados em relação aos BRICS ou mesmo ao G20.

Na verdade, não duvido de que Mantega tenha mesmo se diplomado pela universidade de Sussex. Pois os ingleses parecem conhecê-lo muito bem. Se não o jornal The Guardian não teria afirmado recentemente que, se o Brasil quiser sair da latada econômica em que se acha, a primeira providência é tirar o Mantega.  Não acho nada simpático esses gringos ficarem metendo o bedelho em nossos problemas internos. Mas neste particular, me parece que eles têm razão.    

(Publicado no jornal O Popular - Goiânia - Goiás em 22 de abril de 2013)  

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