Reze a Alá, mas amarre o seu camelo


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O Brasil é um país complexo que consegue a um só tempo ser sofisticado e ingênuo. O poder organizado, os ordenamentos político, jurídico e econômico são sofisticados em oposição a uma sociedade simplória. O estado é dominador, perverso, um Leviatã (monstro), no dizer de Hobbes. É uma classe dominante, no sentido mais cruel do termo e o povão dominado, dons Quixotes que às vezes nem cogitam de combater os moinhos de veto. É um sentimento que nos assola.
                         
Somos terreno fértil para a propagação de disparates. Não só de dominadores contra dominados, mas até mesmo de pessoas ou grupos contra outros no mesmo estamento social. Lugar propício para idéias únicas, dogmáticas, tabus e falta de discussão mais profunda de questões que nos afligem. Há patrulhas, inocentes ou esclarecidas, a cuidar para que certos aspectos da sociedade se conduzam de modo a atender interesses escusos, cumprir agendas secretas, contra o povo.

É tanta iniqüidade que não custa desconfiar de ações impetradas, quer de governo, quer de particulares. Qualquer uma. Já vimos imposição de kits de primeiros socorros para motoristas, sem que possam ou saibam usá-los. Parlamentares que se sujeitam a ser office-boys de contraventores, padre que mata o colega com hóstia de Furadan por ciúme de noviço, pastor que rouba e até estupra fiéis, traficante de drogas dono de clínicas de recuperação de drogados, ongueiros defendendo a permanência das cracolândias porque recebem verbas públicas pelo número de “protegidos”. São tantas mazelas que dariam para entupir os arquivos do Google.

Ante as pinceladas acima, toco num vespeiro alvoroçado, que é a campanha em marcha de erradicação do trabalho infantil e adolescente e restrições para a última fase da adolescência. E antes que as vespas saiam para o ataque, pede-se que contem até três, que reflitam um pouco sobre a questão. 

Os pais e mães de família vivem uma situação de penúria e impasse. Sobretudo  os de menor poder aquisitivo. Os pais precisam trabalhar e não há escolas de tempo integral que possam ocupar os filhos. As existentes estão assediadas pelos meliantes e se tornam mais centro de aliciamento para o crime do que mesmo local de aprendizagem e educação. Com a publicidade impondo o consumo goela abaixo, crianças e adolescentes massacram os pais pelo tênis da moda, pelo celular de última geração, pela roupa de grife, pela grana da balada. Jovem, sobretudo se não trabalha, não tem (e não quer ter) noção do preço das coisas, mas entende que seu uso é inadiável. 

Os jovens desocupados, sem vigilância e ansiosos por consumo, são presas fáceis do crime. A cada dia aumenta mais as notícias de gangues de menores, inimputáveis, (logicamente comandas por gangues de maiores) barbarizando a sociedade com crimes diabólicos. E as autoridades cada vez mais impotentes e perdidas em suas funções. Não seria mais razoável uma campanha por trabalho seguro e decente para os jovens?  Os tempos não outros, mas pessoas de gerações anteriores que começaram a trabalhar mais cedo não são traumatizadas por isso.

Não será surpresa nenhuma se um dia desses o Ministério Público ou a Polícia Federal descobrir que a campanha de erradicação do trabalho infantil e adolescente é financiada por uma rede de traficantes e malfeitores. Afinal, o segmento jovem é o maior cliente do crime. Seja como usuário, seja como mão de obra.   

(Publicado no jornal O Popular - Goiânia - Goiás em 14 de maio de 2013)

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