O melhor lugar do mundo

Se saísse alguém por aí perguntado onde é o melhor lugar do mundo e as pessoas tivessem que responder na bucha, sem tempo de refletir um pouco mais, é quase certo que uma porção de lugares charmosos formaria uma lista imensa. 

Os mais requintados diriam logo de cara que o melhor lugar do mundo é sem dúvida uma cobertura num prédio de alto luxo, debruçada sobre a da Praia de Copacabana, com aquela vista deslumbrante, que nem no Éden bíblico tem igual. (Sim. Porque o Éden é um lugar bucólico, paisagem natural, mato. O surgimento das cidades se daria alguns milênios depois.) 

Alguns diriam que o lugar top é um apartamento na Rua 59, com vista privilegiada para o Central Park, no coração de Manhattan, em Nova York. Outros mais sóbrios prefeririam as imediações do Hyde Park, em Londres, com aquele charme contido e fleumático, mas podendo à noite ir de metrô ou de taxi, sem ser roubado, aos badalados pubs da Piccadilly  Circus. 

Outros ainda escolheriam alguma casa espaçosa nas imediações da elegante Côte d’Azur, na França. Talvez em Nice, Cannes, Cap Farrat , Sant Tropez ou Toulon. E da varanda da casa, a olho nu ou de binóculos, observar aquelas gringas branquelas, descontraídas a bordo de seu topless, sobre os seixos da praia.  Mas se é para estar na Costa Azul, o melhor mesmo é estar em Mônaco, com a marina mais glamorosa do mundo ali no seu quintal e um cassino para jogar um bom dinheiro fora, no quarteirão ao lado, com celebridades de todo o mundo saindo pelo ladrão. 

Os mais românticos talvez indicassem algum castelo no Vale do Loire, na França, uma casa de pedra na Toscana, na Itália,  ou  mesmo um bangalô medieval às margens do Rio Danúbio, que talvez ainda fosse azul, na Áustria ou na Moldávia.

Os mais românticos ainda, já pendendo ao misantropo, poderiam escolher uma datcha (casa de campo) na estepe russa, depois do inverno, antes do outono, feito aquelas habitadas por Dostoievsky ou Soljenítsin. Ou mesmo uma estância numa planície sem fim no sul do Uruguai, com vinho, queijo e uma namorada de jeito. 

Como estou ficando velho e saudosista, e me perguntassem eu diria que o melhor lugar do mundo é aquele ranchinho de pau-a-pique e palha de indaiá, que filtrava o sol e respingava a chuva (sem ser goteira) em que a gente vivia quando eu era pequeno e meu pai aplacava a fome da gente com mel de abelha jataí e peixes do Rio Claro. Mas o rancho não existe mais, meu pai não existe mais, não existe mais abelha jataí, nem o rio Claro dá mais peixes.

Mas de uma coisa estou certo. Como diz o poeta cantor, o melhor lugar do mundo é aqui, e talvez, agora. Quando a gente sai de viagem, em busca de lugares sonhados, o encanto quebra logo, feito um brinquedo de louça. Aí vem uma vontade danada de a gente voltar pro cantinho que é nosso, como a coruja que volta correndo para o oco de seu toco no final de um dia de caça exaustiva.  A busca serve apenas para realçar em nossa percepção, do quanto é gostoso o nosso cantinho. Aquele que é o centro de nossas vibrações, de nossas preocupações, de nossa família. Onde o cheiro de café pela manhã vem buscar a gente no conforto da cama, feito um carinho silencioso, com requintes de ternura. O melhor lugar do mundo é mesmo o meu cantinho.       

(Publicada no jornal O Popular - Goiânia - Goiás em junho de 2013)

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